Embora muitas vezes passem despercebidos, os aneurismas apresentam um risco significativo à saúde quando se formam no cérebro. Essas formações, conhecidas como aneurismas intracranianos, podem causar complicações graves, como hemorragia cerebral e AVC, se não forem identificadas e tratadas a tempo.
A compreensão dos aneurismas, seus fatores de risco, métodos de diagnóstico e opções de tratamento são cruciais para prevenir suas complicações.
O que é aneurisma
Aneurisma é uma dilatação anormal de uma artéria causada pela fraqueza em uma de suas camadas estruturais. As artérias são vasos sanguíneos que transportam sangue rico em oxigênio do coração para o restante do corpo. Elas possuem várias camadas, incluindo uma camada muscular que ajuda a controlar a dilatação e contração dos vasos.
No caso de um aneurisma, ocorre um enfraquecimento em uma dessas camadas, geralmente devido a uma malformação congênita, degeneração, ou danos causados por fatores como pressão arterial alta, tabagismo ou traumas.
Essa área enfraquecida não consegue suportar a pressão sanguínea de maneira adequada, resultando em uma protrusão ou “balonamento” na parede da artéria, semelhante a uma bolha em uma mangueira de jardim com defeito.
Tipos de Aneurisma
Aneurismas podem ocorrer em qualquer artéria do corpo, mas os mais comuns e potencialmente perigosos incluem:
- Aneurisma da Aorta: Ocorre na maior artéria do corpo, que transporta sangue do coração para os órgãos principais.
- Aneurisma Cerebral (Intracraniano): Ocorre nas artérias do cérebro e pode levar a complicações severas se romper.
- Aneurisma Periférico: Ocorre em artérias das pernas, braços ou outras partes do corpo.
O perigo do Aneurisma Intracraniano
Entre os tipos de aneurismas, os intracranianos são particularmente preocupantes devido ao risco de ruptura, que pode causar uma hemorragia subaracnoide, um tipo de acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.
Esses aneurismas se formam nas artérias que irrigam o cérebro e podem permanecer assintomáticos por anos, sendo detectados frequentemente apenas por meio de exames de imagem realizados por outros motivos.
Sintomas
Os sintomas de um aneurisma podem variar amplamente dependendo de sua localização e se ele está intacto ou se rompeu. Muitas vezes, aneurismas não apresentam sintomas até atingirem um tamanho significativo ou até que ocorra uma ruptura, o que pode levar a consequências graves e potencialmente fatais.
No caso dos aneurismas intracranianos, os sintomas podem surgir repentinamente e de forma dramática. O sintoma mais comum e característico de um aneurisma cerebral rompido é uma dor de cabeça súbita e intensa, frequentemente descrita pelos pacientes como a pior dor de cabeça de suas vidas. Esta dor pode ser acompanhada por náuseas, vômitos, rigidez no pescoço e sensibilidade à luz. Alguns pacientes podem experimentar visão turva ou dupla, convulsões, confusão mental ou perda de consciência. Em muitos casos, a dor de cabeça é tão severa e abrupta que os pacientes a reconhecem imediatamente como algo anormal e grave.
Para os aneurismas que não romperam, os sintomas podem ser mais sutis ou inexistentes. Contudo, se o aneurisma crescer a um tamanho que comece a pressionar estruturas adjacentes, pode causar sintomas neurológicos, como dores de cabeça crônicas, problemas de visão (incluindo visão dupla ou perda de visão), dor acima e atrás de um olho, fraqueza ou dormência em uma parte do rosto, ou dificuldade em falar.
Aneurismas em outras partes do corpo também podem ter sintomas variados. Um aneurisma da aorta abdominal, por exemplo, pode se manifestar como uma dor profunda e constante no abdômen ou nas costas, pulsação perto do umbigo, ou dor que se irradia para as pernas. Um aneurisma periférico nas pernas pode causar dor, sensação de pulsação, ou uma úlcera ou ferida que não cicatriza.
Diferença entre aneurisma e avc
Embora aneurismas e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) estejam relacionados ao sistema vascular e possam resultar em complicações neurológicas graves, eles são condições distintas. Um aneurisma é uma dilatação anormal de uma artéria devido à fraqueza em sua parede, que pode ocorrer em qualquer parte do corpo, mas é especialmente perigoso quando se forma no cérebro.
Muitas vezes assintomáticos até romperem, os aneurismas cerebrais podem causar uma dor de cabeça súbita e intensa, náuseas, vômitos, e problemas de visão. O tratamento pode incluir monitoramento, intervenções endovasculares ou microcirurgia.
Por outro lado, um AVC ocorre quando o suprimento de sangue ao cérebro é interrompido ou reduzido, resultando na morte das células cerebrais devido à falta de oxigênio. Os AVCs podem ser isquêmicos, causados pela obstrução de uma artéria, ou hemorrágicos, resultantes da ruptura de um vaso sanguíneo.
Os sintomas incluem fraqueza súbita ou dormência de um lado do corpo, confusão, dificuldade para falar, problemas de visão e perda de coordenação. O tratamento varia desde medicamentos trombolíticos para AVC isquêmico até intervenções cirúrgicas para AVC hemorrágico.
Causas
A principal causa dos aneurismas é uma malformação congênita na parede das artérias. Desde o nascimento, algumas pessoas têm uma fraqueza estrutural em uma das camadas dessas paredes arteriais, o que predispõe a formação de aneurismas ao longo da vida. É importante entender que essa malformação não é causada por um estilo de vida desregrado, mas sim por um malformação que já existe desde o nascimento.
No entanto, existem fatores que podem exacerbar a condição e aumentar o risco de um aneurisma se formar ou se romper. Esses fatores incluem hipertensão não controlada, aterosclerose (o endurecimento das artérias), tabagismo e obesidade. Todos esses fatores contribuem para a descompensação da pressão arterial e podem enfraquecer ainda mais as paredes das artérias, aumentando o risco de aneurismas.
Embora o estilo de vida saudável não possa prevenir a malformação congênita, ele pode reduzir os riscos associados. Por exemplo, controlar a pressão arterial, evitar o tabagismo e manter um peso saudável são medidas importantes para minimizar o impacto desses fatores de risco.
Mesmo pessoas com um estilo de vida saudável podem desenvolver aneurismas devido a essa predisposição congênita, mas adotar hábitos saudáveis pode ajudar a reduzir as complicações e melhorar a qualidade de vida.
Diagnóstico
O diagnóstico de um aneurisma, especialmente antes que ele se torne uma emergência, envolve alguns passos e exames específicos.
Inicialmente, quando há suspeita de um aneurisma no crânio, começamos com exames menos invasivos. Um dos principais exames é a angioressonância magnética, que é uma ressonância magnética com contraste. Esse exame permite visualizar detalhadamente todos os vasos sanguíneos do encéfalo. Outro exame inicial que pode ser utilizado é a angiotomografia, uma tomografia computadorizada com contraste que também desenha todos os vasos do cérebro.
No entanto, o exame padrão-ouro para diagnosticar um aneurisma é a angiografia cerebral. Esse exame é um pouco mais invasivo, mas oferece uma visualização extremamente detalhada. A angiografia é similar a um cateterismo cardíaco, mas em vez de o catéter ser direcionado ao coração, ele é guiado até o cérebro.
O procedimento começa com a inserção de um catéter em uma artéria na virilha. O catéter é então passado até a artéria principal do cérebro, onde é injetado um contraste. Em seguida, uma série de raios X é realizada, permitindo visualizar o “mapa” das artérias intracranianas e identificar qualquer dilatação ou aneurisma presente.
Normalmente, a indicação para realizar esses exames ocorre quando um paciente relata uma dor de cabeça extremamente forte e repentina, muitas vezes descrita como a pior dor de cabeça da vida. Isso é um sinal de alerta significativo.
Além disso, uma história familiar de aneurisma, especialmente entre mulheres de primeiro grau como mães e irmãs, pode aumentar a suspeita e a necessidade de investigação. Se um exame inicial, como a angioressonância, detectar qualquer anormalidade, seguimos para a angiografia para uma avaliação mais detalhada e precisa.
Tratamentos
O tratamento do aneurisma varia de acordo com vários fatores, incluindo o tamanho e a localização do aneurisma, a idade e as condições clínicas do paciente. Existem três abordagens principais para o tratamento: observação, tratamento endovascular e microcirurgia.
A escolha entre essas opções depende de uma avaliação cuidadosa de cada caso, levando em consideração todos os fatores mencionados. Em algumas situações raras, podemos decidir não fazer nada, mas o habitual é tratar a maioria dos aneurismas para prevenir complicações graves. A decisão final é sempre personalizada, visando o melhor resultado para o paciente.
Observação
Para aneurismas pequenos e considerados de baixo risco, especialmente em pacientes mais velhos ou com condições médicas que aumentam o risco cirúrgico, podemos optar por uma abordagem de observação.
Isso envolve monitorar regularmente o aneurisma com exames de imagem para garantir que ele não esteja crescendo ou mudando.
Tratamento Endovascular
O tratamento endovascular é uma abordagem minimamente invasiva, semelhante a um cateterismo cardíaco. Nesse procedimento, um catéter é inserido na artéria da virilha e guiado até o aneurisma.
Uma vez no local, o aneurisma é preenchido com materiais que interrompem o fluxo sanguíneo, como bobinas de platina ou stents. Isso provoca a formação de um coágulo (trombose) dentro do aneurisma, prevenindo seu crescimento e reduzindo o risco de ruptura.
Microcirurgia
A microcirurgia é atualmente o tratamento mais eficaz e definitivo para aneurismas. Esse procedimento envolve a abertura de uma janela óssea no crânio e a exposição da duramáter, que é a membrana que envolve o cérebro.
Usando um microscópio cirúrgico para uma visão ampliada e detalhada, navegamos pelos espaços naturais entre as estruturas cerebrais até encontrar o aneurisma. Em seguida, aplicamos um clipe de titânio, que se assemelha a um pequeno pregador de roupa, na base do aneurisma. Isso impede que o sangue continue a entrar no aneurisma, eliminando o risco de ruptura.
Considerações Adicionais
Em casos de aneurismas múltiplos ou aneurismas em espelho (onde aneurismas se formam em posições correspondentes em ambos os lados do cérebro), pode ser necessário tratar vários aneurismas na mesma cirurgia ou em procedimentos separados. O tratamento é sempre personalizado, começando pelo aneurisma com maior risco de ruptura.
Pós Operatório
Após a cirurgia para tratamento de aneurisma, o pós-operatório é uma fase crucial para a recuperação do paciente.
Após a cirurgia, o paciente passa um período no hospital para monitoramento inicial. O tempo de internação pode variar dependendo da complexidade do caso e da resposta individual do paciente ao procedimento.
Primeiras Semanas
Nos primeiros dias após a cirurgia, o paciente deve evitar qualquer atividade física extenuante. Se o trabalho do paciente não exige esforço físico, ele pode retornar gradualmente às atividades laborais, começando com o home office.
Isso ajuda a garantir uma boa cicatrização e a prevenir infecções no local da cirurgia. É recomendado que o paciente evite ambientes públicos até que os pontos sejam removidos e a cicatrização esteja bem encaminhada.
Retorno às Atividades
Após aproximadamente seis semanas, o paciente pode começar a introduzir atividades físicas leves, como caminhadas.
É importante seguir as orientações médicas para garantir que a recuperação ocorra sem complicações. Atividades mais intensas, como exercícios de academia, podem ser retomadas gradualmente após cerca de três meses, dependendo da evolução do paciente.
Monitoramento Contínuo
Durante o período de recuperação, são realizadas consultas de acompanhamento para monitorar o progresso do paciente e identificar qualquer sinal de complicações. O cuidado contínuo e a adesão às orientações médicas são essenciais para uma recuperação completa e bem-sucedida.
Em resumo, o pós-operatório envolve restrição de atividades físicas inicialmente, retorno gradual às atividades normais e um acompanhamento rigoroso para garantir uma recuperação segura e eficaz.
Considerações finais
O diagnóstico e tratamento de um aneurisma podem parecer assustadores, mas é importante lembrar que a medicina moderna oferece diversas opções eficazes para lidar com essa condição. Desde a identificação precoce através de exames de imagem até os tratamentos avançados como a microcirurgia e as intervenções endovasculares, estamos equipados para tratar aneurismas de maneira segura e eficaz.
A recuperação pode exigir paciência e cuidado, mas com o acompanhamento adequado e a adesão às orientações médicas, muitos pacientes retornam às suas atividades normais, desfrutando de uma vida saudável e plena. Cada passo no tratamento é dado com o objetivo de garantir o melhor resultado possível, reduzindo riscos e proporcionando segurança e bem-estar ao paciente.
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Dr. Marcio Rassi é Neurocirurgião e Professor de Neurocirurgia, especialista no tratamento de tumores cerebrais e da base do crânio. Nosso consultório está localizado na Av. Brig. Faria Lima, 2413; São Paulo.